Exposição Água Vai

O Saneamento na Cidade de Lisboa

A exposição “Água Vai” conta-nos a história do saneamento na cidade de Lisboa e a sua evolução ao longo dos tempos. Desde a famosa frase “Água Vai!”, aviso obrigatório imposto por edital municipal de 1809, que antecedia o lançamento das águas e dejetos domésticos para a via pública, até ao atual Plano Geral de Drenagem de Lisboa.

Além de dar a conhecer o serviço de saneamento que assegura a recolha, o transporte e o tratamento de águas residuais, domésticas e pluviais, a exposição pretende divulgar boas práticas individuais e coletivas que ajudam a preservar o ambiente, a saúde e o bem-estar da comunidade. Porque o saneamento é também responsabilidade de cada um de nós.

A exposição é itinerante, e pode ser requisitada de forma gratuita ao Departamento de Saneamento através do email dmmc.ds@cm-lisboa.pt.

Vídeos da Exposição


Água Vai

Na cidade medieval não existia rede de esgotos, e os poucos canos que havia eram para drenar as águas das chuvas. Fezes, águas dos usos domésticos e outras imundices eram despejadas na rua pelas janelas das habitações, muitas vezes surpreendendo o incauto transeunte. Instituiu-se então, à laia de aviso, o hábito de gritar «água vai!» Este uso tornou-se mais tarde obrigatório por força de posturas municipais, prevalecendo até meados do século XIX.

«É proibido lançar água á rua, de Inverno antes das 9 horas da noite, e de Verão antes das 11: quem assim mesmo o fizer será obrigado a dizer por 3 vezes – água vai – sob pena de 2:000 rs. além do prejuízo de terceiro».

IN: Edital em que o Senado da Câmara de Lisboa relembra as anteriores decisões quanto ao horário para a realização de despejos nas ruas. Assinatura: Francisco de Mendonça Arraes e Melo, Procurador da cidade.
IN: AML-AH, Chancelaria da cidade; Coleção de editais da Câmara Municipal de Lisboa, 1800-1813, f. 188 a 188v.

Calhandreiras

Calhandreiras

Em meados do século XVI andavam pela cidade 1000 mulheres de canastra (calhandreiras) que prestavam serviço a particulares despejando os seus calhandros (bacios altos para dejetos). Em meados do século XIX, embora mais esporadicamente, ainda se observavam calhandreiras na cidade.

«Grande número de habitantes mandavam, ainda de 1840 a 1850, as criadas e as pretas de serviço vazar nas praias grande tijelas da casa com os detritos que se espalhavam pelo caminho».

IN: Sousa Bastos, António – Lisboa Velha Sessenta anos de recordações 1850 a 1910, Oficinas Gráficas da CML, 1947, p. 17 a 18

Período Pré-Pombalino

A primeira grande iniciativa para a construção de esgotos data de 1486, ano em que Lisboa foi assolada por uma violenta crise de peste. Consciente da relação entre a insalubridade generalizada e as recorrentes epidemias, D. João II, a par de instruções para que se procedesse à limpeza da cidade, determinou que se procedesse à construção de canos de esgoto.

«Que se deve fazer por alguas Ruas principaaes canos mui grandes, e por as outras Ruas outros mais pequenos, que vão teer a elles…».

IN: OLIVEIRA, Eduardo Freire de – op. cit., 1887. Tomo I, p. 463

Em finais do século XVII existia já uma extensão significativa de canos em Lisboa, que se estima em cerca de 7 km. Todavia, era ainda bastante incipiente já que não servia a maior parte das habitações.

Período Pombalino

O terramoto de 1 de novembro de 1755 arrasou grande parte da cidade. Na reconstrução pombalina, Lisboa beneficiou de uma nova rede de saneamento limitada à zona baixa. A documentação relativa a essa rede terá desaparecido no incêndio que destruiu o edifício dos Paços do Concelho em 19 de novembro de 1863.
Esta rede de esgotos, sem alterações significativas, encontra-se ainda em funcionamento e tem uma extensão aproximada de 12 km.

Século XIX

Em meados do século XIX, o saneamento em Lisboa pouco tinha evoluído. Com a exceção da Baixa os poucos coletores existentes serviam para drenar água da chuva, e poucas eram as habitações servidas.
Surtos epidémicos diversos continuaram a atingir a cidade, levando o município a criar a Comissão do Saneamento da Capital instalada em 11 de agosto de 1880. O trabalho desta comissão seria materializado no «Projeto de Esgotos da Capital» promovido por Frederico Ressano Garcia.

Este projeto previa uma rede de escoamento contínuo por gravidade, com separação de esgotos domésticos e pluviais na zona baixa da cidade, e um coletor unitário com águas pluviais e domésticas na zona alta. Previa ainda um emissor para conduzir os esgotos domésticos a grande distância de Lisboa, designadamente até Carcavelos, onde seriam lançados ao mar.

Génese do Sistema de Saneamento

Parte significativa da rede de drenagem de Lisboa foi construída entre finais do século XIX e a década de 50 do século XX. Vários estudos e projetos foram entretanto elaborados, destacando-se o estudo «Esgotos de Lisboa» de Arantes e Oliveira datado de 1941, pela sua profundidade e detalhe, nomeadamente no que concerne ao tratamento dos esgotos.

Evolução do Sistema de Saneamento

Em meados do século surge o «Anteprojeto de Saneamento da Cidade de Lisboa», da autoria de Celestino da Costa, que apresenta uma nova solução para o tratamento dos esgotos da cidade. Define também o traçado e secções dos intercetores e dos coletores principais, estes últimos em grande parte executados nas décadas de 60 e 70 do século XX.

Atualmente, a rede de saneamento da cidade de Lisboa é constituída por mais de 1500 km de coletores e cerca de 60 mil câmaras de visita. A rede de saneamento da cidade é de sistema misto: 55% é unitário, constituído por coletores que drenam simultaneamente esgotos domésticos e pluviais; 45% é separativo, constituído por 25% de coletores para drenagem de águas pluviais e 20% de coletores para drenagem de esgotos domésticos.

Nas décadas de 80 e 90 do século XX o Município fez um investimento significativo na construção do Sistema Intercetor e de Tratamento de Esgotos da Cidade. Este sistema é constituído por três Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e um coletor intercetor inserido ao longo de todo o percurso ribeirinho. Este sistema está concessionado à empresa Águas do Tejo Atlântico.

Canos Antigos

Os canos antigos de Lisboa, anteriores ao século XIX, alguns dos quais pré-pombalinos, apresentam diversos tipos de secção com dimensões variáveis. São genericamente constituídos por lajes de calcário, também designados por cascões. Por essa razão estes coletores passaram a ser conhecidos como cascões. Mais pontualmente podem encontrar-se coletores em alvenaria de tijolo, geralmente de secção em U invertido.
Atualmente estão ainda em funcionamento na rede de saneamento da cidade cerca de 40 km destes coletores.

Canos Antigos

Coletores Pombalinos

Estes coletores apresentam dois tipos de secção com dimensões variáveis. A secção U invertido apresenta dois formatos, um dos quais de perfil alto. Já a secção oval apenas varia nas dimensões. Apresentam em comum o material de construção, tijolos de calcário, também designados por saiméis. Por essa razão estes coletores passaram a ser conhecidos como saiméis. Atualmente estão ainda em funcionamento na rede de saneamento da cidade cerca de 8 km destes coletores concentrados, maioritariamente, na Baixa da cidade.

Coletores Pombalinos

Coletores Contemporâneos

As características dos coletores construídos a partir de finais do século XIX foram-se alterando ao longo do tempo em função do surgimento de novos materiais e tecnologias. Os coletores de secção circular são maioritários na rede de saneamento da cidade, podendo ser de grés cerâmico, betão ou materiais plásticos. Para grandes coletores as secções variam entre os Ovais, Nova I e Nova II e, mais pontualmente, Arco Abatido, U Invertido ou Retangular. Já os materiais usados alternam entre a alvenaria de pedra, nos mais antigos, e o betão.

Coletores Contemporâneos

Ribeira de Alcântara

No início do século XX a Ribeira de Alcântara corria livremente desde Benfica até ao rio Tejo. A obra de canalização da Ribeira, que terá sido efetuada por razões de ordem sanitária, foi iniciada em 1944 e concluída em 1967.

Caneiro de Alcântara

O Caneiro de Alcântara é o maior coletor da cidade de Lisboa, tem uma extensão aproximada de 10 km e drena uma área de cerca de 3000 hectares, 1000 dos quais no concelho da Amadora.

Brigada de Coletores

A Brigada de Coletores é um serviço operacional do Município responsável pela manutenção corrente da Rede de Saneamento. Responde diariamente aos pedidos de intervenção para a limpeza e desobstrução de coletores e ramais de ligação, garantindo as condições de salubridade na cidade.

Equipa de Inspeção de Coletores

A Equipa de Inspeção de Coletores é uma Equipa Operacional do Município de apoio aos serviços de gestão da Rede de Saneamento. Dá resposta a pedidos de informação sobre a condição estrutural e operacional dos coletores e apoio na identificação e diagnóstico de problemas operacionais.

Cadastro e Mobilidade Operacional

Os pedidos de intervenção são registados numa plataforma digital que gere todo o ciclo das respetivas ordens de trabalho. As Equipas Operacionais recebem e executam em tempo real as Ordens de Trabalho em PC Tablet que, simultaneamente, disponibiliza informação sobre o cadastro da rede de saneamento.